No ano de 2023, o Brasil testemunhou uma tragédia contínua e alarmante para a comunidade LGBTI+, com 230 vidas perdidas de maneira violenta, conforme revela um dossiê recentemente publicado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no país. Esse número assustador equivale a uma morte a cada 38 horas, um lembrete doloroso da hostilidade e da intolerância enfrentadas por essas pessoas em solo brasileiro.
O levantamento detalhado desse dossiê revela uma narrativa sombria: das 230 mortes, 184 foram assassinatos brutais, 18 foram catalogadas como suicídios e 28 tiveram outras causas, segundo os dados compilados sobre a violência e a violação dos direitos LGBTI+. A sigla LGBTI+ abrange uma ampla gama de identidades de gênero e orientações sexuais, incluindo lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e outras dissidências sexuais e de gênero.
Uma análise mais aprofundada revela que a maioria das vítimas, especialmente as mulheres trans e travestis, compõe os 142 indivíduos transsexuais cujas vidas foram brutalmente interrompidas. Além disso, 59 gays foram vítimas dessa violência desenfreada. É importante ressaltar que 80 das vítimas eram pretas ou pardas, 70 eram brancas e uma era indígena, destacando as interseções de raça e identidade de gênero nesses trágicos eventos.
Entre as estatísticas dolorosas, destaca-se que 120 das vítimas tinham entre 20 e 39 anos, evidenciando como a juventude LGBTI+ está particularmente em risco. A maioria das mortes ocorreu devido ao uso de armas de fogo, com 70 casos registrados, e a maioria delas ocorreu durante a noite, com 69 casos. Alarmantemente, 11 dos registros foram de suicídios de pessoas trans.
A distribuição geográfica dessas mortes também é reveladora. São Paulo lidera com 27 mortes, seguido de perto pelo Ceará e Rio de Janeiro, ambos com 24 mortes cada. Quando ajustado para a população, Mato Grosso do Sul se destaca como o estado com a maior taxa de mortalidade LGBTIfóbica, seguido pelo Ceará, Alagoas, Rondônia e Amazonas.
O dossiê enfatiza a dificuldade de obter dados precisos sobre esses crimes devido à subnotificação e à falta de reconhecimento da identidade de gênero e da orientação sexual das vítimas. Muitos casos podem passar despercebidos, especialmente em áreas onde não há cobertura da mídia local.
As formas de violência documentadas são horríveis, incluindo esfaqueamento, apedrejamento, asfixia, esquartejamento e negação de serviços básicos. Essas atrocidades ocorreram em diversos ambientes, desde o doméstico até as ruas e locais de trabalho.
O observatório utiliza uma metodologia própria, compilando informações de várias fontes, incluindo mídia e redes sociais, para preencher as lacunas deixadas pela falta de dados oficiais. No entanto, ainda há muito a ser feito para enfrentar essa epidemia de violência.
Apesar dos avanços legais, como a criminalização da homofobia pelo Supremo Tribunal Federal em 2019, o Brasil permanece como o país com o maior número de mortes violentas de LGBTI+ no mundo. Este dossiê serve como um chamado à ação urgente para a proteção e o reconhecimento dos direitos humanos de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A versão completa do dossiê está disponível no portal do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil.