O dólar continua fechando em alta frente ao real brasileiro, seguindo a tendência observada nos últimos dias. Até a manhã desta sexta-feira (21), a moeda americana atingiu R$ 5,44, representando uma valorização de mais de 10% em relação ao real apenas neste ano. Essas variações devem pressionar a inflação no Brasil, especialmente nos setores de alimentação e produtos importados. Itens de tecnologia, saúde e produtos que dependem de matéria-prima internacional podem registrar aumentos nos próximos meses, assim como alimentos básicos como trigo e milho, afetando particularmente os seus derivados, como o preço do pão em Belém e outras cidades do país.
“Qualquer coisa relacionada à importação acaba sofrendo impacto no preço final em caso de reajuste. Isso também se aplica às empresas que usam insumos importados, o que consequentemente afeta o preço final“, explica a economista paraense Guaraciaba Sarmento.
Impactos no Consumo
No setor alimentício, que tem pesado mais no bolso dos consumidores, o preço do trigo deve sofrer novos aumentos nos próximos meses. Com o aumento do cereal, outros produtos básicos para os paraenses também devem ser impactados, avalia Alex Batista, diretor do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Pará (Sindipan). “Sabemos que o aumento do trigo impacta não só o pão francês, mas uma gama de produtos como massas, biscoitos e outros derivados do trigo. É toda uma cadeia que sofre com esses impactos, sobre os quais não temos controle“, detalha o representante.
“Já tenho ouvido especulações de que haverá reajuste no preço do trigo. Como sindicato, tentaremos minimizar esse impacto, conversando com os moinhos para ver o que podemos fazer para minimizar os impactos nas padarias e, principalmente, para o consumidor final“, completa Alex Batista.
A consumidora e confeiteira Milene Moraes já percebeu um aumento no preço do quilo do trigo, que passou de R$ 4 para R$ 6 neste primeiro semestre do ano. Uma das estratégias que Milene usa para continuar prezando pela qualidade dos alimentos vendidos por ela é sempre fazer uma pesquisa prévia antes de comprar os ingredientes para suas receitas. “Eu procuro muito, ando em vários lugares e pesquiso”, declarou a microempreendedora.
Além dos produtos importados, a alta do dólar também pode impactar a cadeia produtiva brasileira. “Na área da alimentação, existem setores que usam ração importada na criação de gado e aves, o que também gera um impacto no valor final”, detalha Sarmento. Por outro lado, a especialista avalia que as variações na moeda estrangeira podem beneficiar alguns setores da economia brasileira com grande volume de exportações. “O aumento do dólar é bom para os empresários que exportam, uma vez que nossos produtos se tornam mais competitivos quando comparados com a moeda americana“, afirma.
Variação
Os recentes aumentos colocam o dólar no maior nível desde julho de 2022, quando fechou a R$ 5,49. A divisa acumula alta de 4,06% em junho e de 12,55% em 2024. Na última quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter os juros básicos da economia em 10,5% ao ano e indicou que não deve mexer na taxa Selic nas próximas reuniões.
Uma das consequências dessa decisão é um crédito mais caro, segundo a economista paraense. “Importante ressaltar que a taxa Selic é parâmetro para todas as demais taxas de juros praticadas no mercado, como nosso cartão de crédito do dia a dia, empréstimos, entre outros. Também afeta as unidades produtivas em relação à tendência de investir, já que muitos investimentos são vinculados a empréstimos“, conclui Sarmento.