Quase sete anos após o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos do crime, enfrentam júri popular no Rio de Janeiro a partir desta quarta-feira (30). “É um momento decisivo para todos que lutam pela justiça e acreditar que o Brasil deve ser um país onde mulheres, negros, LGBTQIAPN+ e moradores de favelas não sejam vítimas de execuções”, declarou o Instituto Marielle Franco, ONG criada pela família de Marielle para defensor do seu legado.
Em 14 de março de 2018, uma vereadora, reconhecida por sua atuação em prol dos direitos humanos, foi assassinada a tiros enquanto estava no carro, aos 38 anos, juntamente com Anderson Gomes. O crime chocou a opinião pública mundial e manifestou suspeitas sobre a possível ligação com milícias cariocas, que exploram territórios urbanos ilegalmente e realizam diversas atividades criminosas. Nascida no Complexo da Maré, Marielle se dedica à luta contra a violência policial e pelos direitos das comunidades periféricas, especialmente em favor de jovens negros, mulheres e pessoas LGBTQIAPN+. Ela também denunciou a atuação das milícias no Rio de Janeiro.
Frente ao 4º Tribunal do Júri, no Centro do Rio, uma manifestação foi convocada para exigir justiça, acompanhando a abertura do julgamento, que pode durar dias. O júri será composto por 21 pessoas, das quais sete serão sorteadas para cumprir o papel de jurados. Durante o processo, os jurados permaneceram isolados e sem comunicação com o exterior. O Ministério Público solicita pena máxima de 84 anos para os acusados Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, ambos ex-PMs do Rio de Janeiro, que participaram do julgamento por videoconferência direto da prisão. Lessa confessou ter atirado em Marielle com uma captura de dentro do veículo transitado por Queiroz, que também envolveu seu envolvimento no crime.
Ao longo do julgamento, serão ouvidas novas testemunhas, incluindo Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle, que estava no carro e sobreviveu ao atentado.
Um “crime político” que continua sem respostas
Desde sua morte, Marielle Franco tornou-se um símbolo de luta por justiça e igualdade no Brasil, especialmente para movimentos negros e progressistas. “Este julgamento é essencial para atender ao clamor da sociedade por respostas sobre esse crime político hediondo”, afirmou Nathalia Carlos, gestora-executiva do Instituto para a Defesa da População Negra (IDPN). Para ela, alcançar a justiça representa um marco para a democracia e para a defesa das lideranças políticas de mulheres negras que defendem mudanças no país.
Contudo, o julgamento atual não inclui os supostos mentores do crime. Os irmãos Chiquinho Brazão, deputado federal, e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ), foram recentemente detidos, após serem citados por Lessa em delação. Ambos prestaram depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada, assim como o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, acusado de obstruir a investigação. Todos negam envolvimento.
Ainda em andamento, as investigações indicam que Lessa teria aceitado uma “oferta” do Brazão em nome da milícia para executar Marielle Franco. “O julgamento dos executores é um passo importante”, declarou a Anistia Internacional, “mas a verdadeira justiça só será alcançada quando todos os envolvidos, incluindo os que planejaram o crime, forem responsabilizados de forma justa.”
Com informações de O Liberal