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Cracolândia demanda prudência, não imediatismo – 20/11/2025 – Opinião

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não teve dúvidas. No último dia 13, cravou em suas redes sociais: “Sim, a cracolândia acabou”. Comemorava os seis meses completos desde que se dissipou a famigerada concentração de usuários de drogas no centro da capital paulista.

A prefeitura da cidade, sob comando de Ricardo Nunes (MDB), refere-se ao assunto com mais prudência. Não celebra o “fim” da aglomeração na rua dos Protestantes, em Santa Ifigênia; em vez disso, prefere descrever a situação como um “esvaziamento”.

E, de fato, quando se trata da cracolândia, a experiência histórica recomenda moderação no discurso. Ao longo de mais de duas décadas, diferentes gestões apresentaram respostas distintas ao problema. Tiveram em comum, além da falta de sucesso, o imediatismo, como se pensadas de olho no calendário eleitoral.

Não parece ser outra a motivação do coronel Mello Araújo (PL) ao falar do tema. Embora seja aliado de Tarcísio e de Nunes, de quem é vice, porta-se como adversário de ambos. Em entrevista à Folha, dispara contra o governador e critica ações municipais, procurando atrair os holofotes para sua possível candidatura ao Senado em 2026.

Com o fogo amigo, os três reeditam, em tons muito mais ríspidos, a desarmonia que João Doria e Geraldo Alckmin viveram em 2017, após operação policial na região. À época governador pelo PSDB, Alckmin mencionou uma “questão crônica”, enquanto o também tucano Doria, então prefeito, decretou: “A cracolândia aqui acabou, não vai voltar mais”.

Estava errado, e é provável, embora não desejável, que Tarcísio também esteja. Nas demais vezes em que o fluxo de usuários de drogas se dispersou, pequenos agrupamentos se reuniam nas vizinhanças, em ruas menos visadas, até que a multidão voltou a se formar nos pontos originais.

A situação atual foge um pouco desse roteiro apenas porque prefeitura e governo se esforçam para evitar a aglomeração no local que se convencionou chamar de cracolândia. Mas isso não significa que não existam usuários amontoados alhures.

Ações simplistas podem até render dividendos eleitorais no curto prazo, mas elas passam longe de resolver um problema que, a julgar pelas boas práticas internacionais, demanda resposta multidisciplinar e de longo prazo.

Tarcísio, Nunes e, sobretudo, Mello Araújo podem até achar que estão reinventando a roda, mas apenas repetem muito do que já se disse e se fez na cracolândia —incluindo a desavença.

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Fonte: Folha de S. Paulo

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