A conveniência de escolher a refeição na tela do celular e recebê-la em casa ou no escritório camufla a teia de conflitos e a desordem que estão por trás do mercado de delivery.
Quem usa diariamente esse serviço, incorporado à rotina como se fosse mágica, mal percebe as distorções. O consumidor acaba de comer, joga fora a embalagem e vida que segue, como diz o bordão.
Geralmente, não faz sequer o descarte correto para reciclar o excesso de lixo produzido nessa forma de consumo.
São poucos os que, minimamente, se interessam pelo noticiário sobre os distúrbios do setor. Para citar um deles, a regulação trabalhista segue incapaz de chegar a uma solução para amenizar a condição precária a que está submetido o entregador. Os menos indiferentes dão uma gorjeta, mas nem sempre.
Essa não é só uma atividade que enche as ruas de motoqueiros e ciclistas a atrapalhar o trânsito. Ela gera reflexos até na segurança pública —quando os assaltantes se disfarçam de entregadores—, sem falar nas disputas tributárias e concorrenciais ligadas à dominância do iFood.
Mas há mudanças em curso. Nas últimas semanas, o anúncio da chegada da 99Food, prometendo cortar tarifas cobradas dos restaurantes, e os rumores de que a gigante chinesa Meituan esteja interessada em desembarcar no Brasil para concorrer com o iFood parecem ter estimulado uma guerra de preços que pode favorecer os estabelecimentos. O Rappi também se compromete a zerar taxas.
Na área da segurança, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou lei que obriga as empresas a instalarem QR Codes de identificação na mochila dos entregadores, tentando dificultar a ação dos ladrões travestidos de trabalhador. Enquanto isso, o iFood, pressionado pela greve de motoqueiros, anunciou reajuste, embora abaixo do reivindicado.
O delivery vive um ponto de virada. Vale a pena conhecer melhor o processo pelo qual passa o alimento que chega às suas mãos.