Levantar da cama com a mente lenta, o corpo pesado e a sensação de não ter descansado o suficiente, mesmo após várias horas de sono, pode ser mais do que preguiça. Esse tipo de despertar é um sinal clássico de desregulação do sono, um problema que afeta diretamente a saúde física, emocional e o desempenho mental ao longo do dia.
“Quando acordamos no meio de um estágio profundo do sono, o cérebro ainda não está pronto para despertar. Isso leva a uma sensação chamada inércia do sono, marcada por lentidão mental e física, alterações de humor e queda na concentração”, explica o neurologista Edson Issamu, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
O fenômeno está relacionado à interrupção dos ciclos naturais do sono, que duram entre 90 e 120 minutos e alternam fases de descanso leve e profundo. Quando esse ciclo é interrompido antes de ser concluído, o corpo e o cérebro não conseguem completar processos essenciais de recuperação.
O sono é dividido em dois grandes grupos: sono Não-REM e sono REM (sigla para Rapid Eye Movement, ou movimento rápido dos olhos). Durante o sono REM, o cérebro apresenta alta atividade, e ocorrem os sonhos mais vívidos. Já o sono Não-REM é composto por três estágios (N1, N2 e N3), sendo o último o mais profundo e o mais importante para a regeneração física e mental.
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“Acordar durante essa fase profunda, antes que o ciclo se complete, significa interromper um processo essencial para o corpo e o cérebro. O resultado é um despertar lento e confuso, acompanhado de sensação de cansaço e dificuldade de concentração nas primeiras horas do dia”, explica o especialista.
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Fatores que prejudicam o sono
Um dos grandes vilões da qualidade do sono é o uso excessivo de telas eletrônicas antes de dormir. Aparelhos como celulares, computadores e televisores emitem luz azul, que inibe a produção de melatonina, o hormônio responsável por sinalizar ao cérebro que é hora de descansar.
“Essa interferência atrasa o início do sono e pode provocar insônia ou o Transtorno da Fase Atrasada do Sono, no qual a pessoa adormece e acorda muito tarde, mesmo que deseje manter horários convencionais”, afirma o neurologista.
Apesar desse fator estar no topo da lista das causas de má qualidade do sono, outros aspectos também contribuem para a desregulação. Entre eles estão o estresse crônico, a má alimentação, o sedentarismo, o consumo de álcool, o uso de medicamentos ou substâncias psicoativas, além de doenças como a apneia do sono.
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O que pode ajudar
Ao contrário do que muitos acreditam, dormir mais nos finais de semana não resolve o problema.
“Infelizmente, não é possível compensar noites mal dormidas acumulando horas de sono em outros dias. Essa prática pode, inclusive, agravar a desregulação do ciclo sono-vigília”, afirmou o neurologista.
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Para manter o relógio biológico ajustado e acordar com mais energia, o especialista recomenda:
- Ter uma rotina de sono regular, mesmo nos fins de semana;
- Evitar telas pelo menos uma hora antes de dormir;
- Reduzir o consumo de cafeína e bebidas alcoólicas à noite;
- Dormir em ambientes escuros e silenciosos;
- Praticar atividade física com regularidade (mas longe do horário de dormir);
- Manter uma alimentação equilibrada e lidar com o estresse de forma saudável.
O cansaço faz parte do dia a dia da vida moderna, mas não é algo normal. Se os sintomas se tornam persistentes a ponto de impactar diversas áreas da vida, a recomendação é buscar orientação médica.
“Se houver queda no desempenho no trabalho, prejuízo nas relações interpessoais ou impacto físico evidente, o ideal é investigar causas clínicas e adotar estratégias específicas para restaurar a qualidade do sono”, conclui Issamu.
Fonte: infomoney