'Ainda Estou Aqui' estreia na Coreia com sessões esgotadas - 02/05/2025 - K-cultura

"Ainda Estou Aqui" faz sua estreia na Coreia do Sul, nesta quinta (2), com sessões esgotadas no Festival Internacional de Cinema de Jeonju, um dos mais importantes do país asiático.

Leia mais

O Oscar de melhor filme internacional e a crítica positiva ajudam a atrair espectadores. Para além disso, o longa de Walter Salles sobre a ditadura militar brasileira dialoga com um passado político semelhante dos coreanos.

Leia mais

"A história do Brasil na jornada rumo à democracia é também a história da Coreia do Sul do outro lado do globo", diz Moon Seok, um dos responsáveis pela programação da mostra de Jeonju, cidade a 190 km da capital Seul. Os dois países viveram ditaduras militares ao mesmo tempo —o regime autoritário vigorou no Brasil de 1964 a 1985 e, na Coreia do Sul, de 1961 a 1987.

Leia mais

"Há muitos pontos de ressonância", afirma Moon. Ele descreve "Ainda Estou Aqui" como "interessante e comovente" e conta que a equipe do festival se identificou com a trama retratada. "Tanto os mais velhos, que vivenciaram uma história sombria, quanto os mais jovens, devido à influência do ‘estado de emergência’ de 3 de dezembro".

Leia mais

Em dezembro do ano passado, o então presidente Yoon Suk-yeol tentou impor a lei marcial, num movimento golpista. A forte oposição da população levou ao impeachment de Yoon. Desde então, a Coreia do Sul vive uma crise política, com trocas constantes no governo interino até a nova eleição.

Leia mais

Embora haja diferenças entre as ditaduras dos dois países, Moon diz que a ligação central com o longa brasileiro está na opressão desses regimes e a resistência do povo. "Aqueles no poder mobilizaram os militares e a polícia para prender inúmeras pessoas, muitas das quais morreram em circunstâncias desconhecidas ou suspeitas."

Leia mais

Kim Cheul-hong, que há dois anos vive no Brasil para gerenciar o Centro Cultural Coreano, em São Paulo, destaca a forma como os personagens lidaram com a dor. "Na Coreia também houve momentos trágicos semelhantes ao apresentado no filme, e muitas pessoas e famílias conseguiram suportá-los com resiliência."

Leia mais

O diretor do centro cultura descreve o filme com Fernanda Torres como calmo, mas que, ao mesmo tempo, causa uma impressão forte que permanece com o telespectador. "Ao invés de focar apenas nos acontecimentos políticos e sociais da época, me deparei com o cotidiano de uma família comum", comenta. "As belas praias do Rio, as refeições compartilhadas com amigos, os momentos simples entre os membros da família –essas cenas, embora diferentes das da Coreia, me pareceram familiares."

Leia mais

A trama é centrada na família de Rubens Paiva, ex-deputado assassinado durante o regime. "A violência do Estado, de forma repentina, infiltrou-se na vida privada de uma família, e o filme nos faz sentir essa invasão na camada da experiência pessoal", diz a ensaísta e tradutora sul-coreana Anna Kim.

Leia mais

Ela completa: "Os sons e as cores nos fazem sentir o esplendor do cotidiano, o temor das fissuras na estrutura social e, apesar de tudo, a continuidade da vida no presente", diz. "É um grande filme."

Leia mais

Anna observa, no âmbito político, como os dois países reprimiram os movimentos antigovernamentais e adotaram uma linha pró-americana. "Desse período, 15 anos foram marcados por uma ditadura extremamente autoritária", afirma.

Leia mais

A tentativa recente de um novo golpe refletiu na seleção da 26ª edição da mostra de cinema, a segunda mais antiga da Coreia do Sul. "Isso revelou que as fundações da democracia, que se pensava estarem firmemente estabelecidas desde o final dos anos 1980, eram mais frágeis do que o esperado", diz Moon.

Leia mais

Em resposta, o festival criou a seção "Novamente, Rumo à Democracia", com títulos que abordam os desafios enfrentados pela democracia em diferentes países. "O estado de emergência declarado em dezembro deu a esses filmes sua importância decisiva", afirma o responsável pela programação. Entr eles, está outro brasileiro, "No Céu da Pátria Nesse Instante", documentário de Sandra Kogut sobre as eleições de 2022 e a invasão do Congresso Nacional.

Leia mais

Outras duas produções nacionais figuram na mostra: "Um É Pouco, Dois É Bom" (1970), de Odilon Lopez, e "Onda Nova" (1983), de Ícaro Martins e José Antonio Garcia, exibidos pela primeira vez na Ásia. Moon destaca a relevância histórica dos longas, que foram restaurados, para o audiovisual nacional.

Leia mais

"O cinema brasileiro tem ganhado impulso, não apenas pelo trabalho de cineastas estabelecidos, mas também pelo surgimento de jovens diretores. O festival está prestando atenção a essa tendência", afirma. Eles tentaram exibir "Apocalipse nos Trópicos", documentário de Petra Costa sobre a influência do cristianismo evangélico na política de direita, mas o pedido foi negado pela produtora.

Leia mais

No caminho oposto, um filme sul-coreano sobre o golpe militar de 1979 estreou no Brasil há uma semana, "12.12: O Dia". O longa foi a maior bilheteria de 2023 no país asiático, atraindo 11,8 milhões de pessoas —um quinto da população--, e voltou a ser assunto.

Leia mais

"Quando os jovens se juntaram para protestar contra a lei marcial, muitos deles foram influenciados pelo filme. Espectadores jovens viram os soldados planejando derrubar o governo e realizando operações covardes, o que provavelmente serviu como uma lição histórica", diz Moon. "A popularidade de tais histórias também serve como um lembrete de que nossa democracia permanece frágil."

Leia mais

Fonte: Folha de S. Paulo

Leia mais

Gostou deste story?

Aproveite para compartilhar clicando no botão acima!

Visite nosso site e veja todos os outros artigos disponíveis!

163 NOTICIAS